A nossa vida é uma corrida de fundo, em que o vencedor não é escolhido por ser o que primeiro que corta a meta, mas aquele que aguenta mais quilómetros, neste caso anos, sem atirar a toalha ao chão. Para sair vencedor nesta prova tem que se estar bem preparado, tratar muito bem da saúde ao longo da vida e pedir à sorte que nos acompanhe para evitar qualquer percalço. É, no entanto, inevitável que a cada quilómetro percorrido alguém fique pelo caminho. Ontem foi a vez do meu camarada Edgar Batista (Número de Matrícula da Armada 16993 - 7627.62).
Há cerca de duas semanas, ele sofreu um AVC e, encontrando-se sozinho em casa, passou muitas horas (podem ter sido dias) sem qualquer assistência. Foi hospitalizado, mas logo à partida se sabia que a recuperação seria muito problemática e poderia ficar com sequelas gravíssimas. Ontem, atirou a toalha ao chão, deixou de respirar e partiu para aquele lugar de onde ninguém regressa. É apenas uma questão de tempo, mas todos nós, os seus camaradas que com ele assentaram praça nos fuzileiros, em Março de 1962, o seguiremos nessa viagem. Dentro de não muitos anos, quando o clarim tocar para a formatura, todos nós responderemos "pronto", não faltará nenhum.
O Edgar fez a recruta e o ITE comigo, na Escola de Fuzileiros e depois disso separámos-nos. Ele inscreveu-se no Curso de Fuzileiros Especiais e eu na Companhia de Fuzileiros Nº 2 que estava pronta para sair para Moçambique. Em Setembro de 1963 inscreveu-se no DFE6 e partiu para Angola, onde ficou até ao fim de Outubro de 1965. E no fim de Maio do ano seguinte, desta vez como membro da CF10, partiu novamente para Angola numa segunda comissão que durou até Agosto de 1968.
Daí em diante não sei o que foi a sua vida, pois só voltei a reencontrá-lo em 2002, ano em que comecei a frequentar os convívios dos «Filhos da Escola» organizados por um trio de camaradas da Escola de Alunos Marinheiros, de Vila Franca de Xira. Doravante não haverá mais convívios.
Descansa em paz, camarada Edgar!