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terça-feira, 28 de outubro de 2014

A minha recruta e o seu comandante!

Maxfredo Ventura da Costa Campos era o comandante do Batalhão da Recruta formado na Escola de Fuzileiros, em Março de 1962. Com o posto de 1º Tenente era o segundo oficial mais graduado da Escola e tinha a seu cargo a formação de 300 recrutas que aspiravam a tornar-se fuzileiros. Nem todos o conseguiriam, uma vez que os grumetes voluntários que não tivessem aproveitamento seriam mandados para casa no fim do ITE.
Eu era um desses 300 recrutas e por isso posso dizer que conheci pessoalmente o homem de 83 anos de idade que, na passada sexta-feira, foi mortalmente atropelado na famosa EN125, entre Lagoa e Porches.
O Tenente Maxfredo era extremamente militarista e muito exigente com os seus homens, razão pela qual não era muito querido entre a arraia miúda que debaixo das suas ordens gravitava na Escola de Fuzileiros. Não consigo recordá-lo sem o seu farto bigode, o fato camuflado e os óculos de sol. Poderia jurar que nunca o vi fardado de branco ou com outros óculos que não aqueles de lentes escuras. Outra coisa que o caracterizava era o pastor alemão de pelagem preta que sempre o acompanhava e respondia pelo nome de Taifun. Um e outro impunham respeito quando se plantavam em frente do batalhão formado na Parada da Escola.
Tanto quanto me consigo lembrar, existiam na Escola de Fuzileiros, nesse tempo, apenas 4 oficiais, o Capitão-Tenente Melo Cristino que comandava a Unidade, o 1º Tenente Maxfredo responsável pela recruta, o 2º Tenente Pascoal Rodrigues comandante do Curso de Fuzileiros Especiais e o 2º Tenente Oliveira responsável administrativo da Unidade. Uma família pequena, como se vê.
Como administrador deste blog que carrega o pesado nome da Escola de Fuzileiros achei que devia deixar aqui esta pequena resenha da vida do homem e fuzileiro que partilhou comigo um curto período da sua vida e que teve e terá para sempre o seu nome ligado a essa Unidade de Marinha que foi posta a funcionar, em 1961, nas instalações navais de Vale de Zebro, para responder ao esforço de guerra que culminou na independência das nossas colónias em África.
Morreu o homem, o militar, o fuzileiro, respeite-se a sua memória!

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Tenente Belo!


Faleceu na primeira metade deste ano, em Luanda. Correu por aí um zum-zum que não foi de morte natural, mas nunca mais ouvi ninguém avançar com pormenores. Se alguém souber o que de facto se passou, agradeço deixe aqui um comentário.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Adeus camarada!

Camarada é uma palavra muito usada pelos comunistas, coisa que o comandante agora falecido não era, mas também pelos fuzileiros, especialmente aqueles que partilharam as vicissitudes da Guerra Colonial. É neste contexto que decidi usar a palavra no título que encima esta mensagem.
No ano de 1965 passei 6 meses na Escola de Fuzileiros e, por aquilo que me foi dado saber, era ele o comandante da nossa Escola nessa altura. Não tenho a mínima memória disso, nem dei pela falta do Melo Cristino que comandava a Escola de Fuzileiros quando parti para o Ultramar. Não conhecer o comandante de uma Unidade Militar e nunca ter entrado no seu gabinete é um pormenor que atesta o bom comportamento de um grumete fuzileiro, meu posto e classe nesse longínquo ano de 1965.
Não conhecia alguns dos pormenores da vida do fuzileiro Alpoim Calvão, nomeadamente a sua aversão a comunistas (que eu compartilho) e por isso decidi transcrever, na íntegra, para este blog a peça escrita por Luísa Meireles e publicada no Expresso de ontem.


Guilherme Almor de Alpoim Calvão foi um dos oficiais mais condecorados das Forças Armadas portugesas mas acabou por destacar-se politicamente após o 25 de Abril, pela sua oposição ao regime. Faleceu esta madrugada no Hospital de Cascais, aos 77 anos, vítima de doença prolongada.
Foi fundador e participante ativo do Movimento Democrático de Libertação de Portugal (MDLP), responsável por uma série de assaltos e atentados bombistas a sedes do PCP e outros partidos de esquerda no chamado Verão Quente de 1975.
Muito ligado ao general Spínola, a quem acompanhou no exílio depois do 11 de março, era fuzileiro tendo chegado ao posto de capitão de mar-e-guerra. Na Guiné, onde combateu durante a guerra colonial, foi o responsável pela fracassada invasão da Guiné-Conacri, em 1970 (Operação Mar Verde), que visava libertar prisioneiros portugueses e abater aviões de apoio ao PAIGC.
Embora convidado, Alpoim Calvão recusou integrar o grupo de oficiais do 25 de Abril e, pouco tempo depois, apoiou declaramente o general Spínola, a quem considerava como o único que poderia repor os "objetivos iniciais" do 25 de Abril.
É neste contexto que o apoia no 28 de Setembro e, mais tarde, acompanha-o na fundação do próprio MDLP, em maio de 1975, onde ocupava funções como operacional, coordenando ações e arranjando armas.
Participou no golpe do 11 de Março de 1975, liderado por Spínola e, depois disso, coordenou uma série de ações terroristas no norte do pais. É também atribuído ao MDLP o ataque à bomba que matou o padre Max, ligado aos movimentos de extrema-esquerda.
"Fui formado na luta contra a ideia, a filosofia e a forma do comunismo, contra a ditadura do proletariado, contra o espezinhamento do homem e as nomenclaturas vivendo nas suas 'dachas', só se fosse insensível é que não partiria para esta guerra", disse ele uma vez numa entrevista, justificando a sua ação à época. 
Depois de ser "abatido ao efetivo da Armada" por determinação do Conselho da Revolução na sequência do 11 de março de 1975, veio a ser reintegrado em 1986 e promovido a capitão-de-mar-e-guerra, tendo passado à reforma, em março de 1990. Em 2010, foi condecorado pelo ramo com a medalha de Comportamento Exemplar, grau ouro, no dia do Fuzileiro.
Como homem de negócios adquiriu a Fábrica de Pólvora de Barcarena e manteve ligações com negociantes em vários pontos do globo, tendo sido muito ativo nos negócios, em particular no Brasil e na Guiné-Bissau.