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quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Adeus camarada!

Camarada é uma palavra muito usada pelos comunistas, coisa que o comandante agora falecido não era, mas também pelos fuzileiros, especialmente aqueles que partilharam as vicissitudes da Guerra Colonial. É neste contexto que decidi usar a palavra no título que encima esta mensagem.
No ano de 1965 passei 6 meses na Escola de Fuzileiros e, por aquilo que me foi dado saber, era ele o comandante da nossa Escola nessa altura. Não tenho a mínima memória disso, nem dei pela falta do Melo Cristino que comandava a Escola de Fuzileiros quando parti para o Ultramar. Não conhecer o comandante de uma Unidade Militar e nunca ter entrado no seu gabinete é um pormenor que atesta o bom comportamento de um grumete fuzileiro, meu posto e classe nesse longínquo ano de 1965.
Não conhecia alguns dos pormenores da vida do fuzileiro Alpoim Calvão, nomeadamente a sua aversão a comunistas (que eu compartilho) e por isso decidi transcrever, na íntegra, para este blog a peça escrita por Luísa Meireles e publicada no Expresso de ontem.


Guilherme Almor de Alpoim Calvão foi um dos oficiais mais condecorados das Forças Armadas portugesas mas acabou por destacar-se politicamente após o 25 de Abril, pela sua oposição ao regime. Faleceu esta madrugada no Hospital de Cascais, aos 77 anos, vítima de doença prolongada.
Foi fundador e participante ativo do Movimento Democrático de Libertação de Portugal (MDLP), responsável por uma série de assaltos e atentados bombistas a sedes do PCP e outros partidos de esquerda no chamado Verão Quente de 1975.
Muito ligado ao general Spínola, a quem acompanhou no exílio depois do 11 de março, era fuzileiro tendo chegado ao posto de capitão de mar-e-guerra. Na Guiné, onde combateu durante a guerra colonial, foi o responsável pela fracassada invasão da Guiné-Conacri, em 1970 (Operação Mar Verde), que visava libertar prisioneiros portugueses e abater aviões de apoio ao PAIGC.
Embora convidado, Alpoim Calvão recusou integrar o grupo de oficiais do 25 de Abril e, pouco tempo depois, apoiou declaramente o general Spínola, a quem considerava como o único que poderia repor os "objetivos iniciais" do 25 de Abril.
É neste contexto que o apoia no 28 de Setembro e, mais tarde, acompanha-o na fundação do próprio MDLP, em maio de 1975, onde ocupava funções como operacional, coordenando ações e arranjando armas.
Participou no golpe do 11 de Março de 1975, liderado por Spínola e, depois disso, coordenou uma série de ações terroristas no norte do pais. É também atribuído ao MDLP o ataque à bomba que matou o padre Max, ligado aos movimentos de extrema-esquerda.
"Fui formado na luta contra a ideia, a filosofia e a forma do comunismo, contra a ditadura do proletariado, contra o espezinhamento do homem e as nomenclaturas vivendo nas suas 'dachas', só se fosse insensível é que não partiria para esta guerra", disse ele uma vez numa entrevista, justificando a sua ação à época. 
Depois de ser "abatido ao efetivo da Armada" por determinação do Conselho da Revolução na sequência do 11 de março de 1975, veio a ser reintegrado em 1986 e promovido a capitão-de-mar-e-guerra, tendo passado à reforma, em março de 1990. Em 2010, foi condecorado pelo ramo com a medalha de Comportamento Exemplar, grau ouro, no dia do Fuzileiro.
Como homem de negócios adquiriu a Fábrica de Pólvora de Barcarena e manteve ligações com negociantes em vários pontos do globo, tendo sido muito ativo nos negócios, em particular no Brasil e na Guiné-Bissau.

3 comentários:

  1. Assim terminou a carreira de um guerreiro, como terminará a de todos aqueles que ainda por cá andam. Com altos e baixos venceu algumas batalhas, todavia, não conseguiu vencer aquela que ainda ninguém conseguiu nem nunca ninguém conseguirá vencer, a última batalha da vida a morte.

    Lá onde quer que esteva, descanse em PAZ.

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  2. Tive o privilégio de conhecer e lidar com um Homem Bom, um Militar Brilhante, uma Alma de Carácter Extraordinário, um Colosso Visionário, uma Bússola Orientadora, um Azimute sem Paralelo, uma Prova de Sobrevivência que, só a morte destruiu corporalmente. Porque, o nome Insígne e Honrado, Tenaz e Conhecedor, o Espírito Militar, a Dedicação e Entrega, o Voluntarismo Estóico, a Discíplina e Patriotismo, fazem do Capitão de Mar e Guerra, Alpoim Calvão, Fuzileiro para sempre!
    Condolências à família, a todos os Fuzileiros e à Marinha de Guerra Portuguesa.

    Agostinho Teixeira "Verde"
    Ex. Cabo Fuzileiro

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  3. Só conheci a história deste grande Fuzileiro anos depois de ter saído da Briosa... e ainda por cima, longe de Portugal.

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