O meu pai trabalhou toda a vida como um mouro. Entrou para a escola com 7 anos e aos 8 a minha avó foi lá buscá-lo e entregou-o a um patrão para ter cama, mesa e roupa lavada garantida em troca de pequenos trabalhos que a sua idade lhe permitia fazer.
Aos 11 anos morreu-lhe o pai e como não havia mais ninguém para "alombar" com as despesas do funeral, foi o seu patrão quem pagou pondo o respectivo valor a débito na sua conta. O passadio era fraco, as roupas não passavam de trapos velhos aproveitados daquilo que tinha como destino o lixo. Mal se apanhou com a conta saldada, e já tinha mais de 16 anos, abalou sem olhar para trás e sem agradecer ao empregador. Jurou que naquela casa não entraria mais. E cumpriu a promessa.
Aos 65 anos propôs ao patrão continuar a trabalhar enquanto tivesse forças, mas no pós-25 de Abril e com o camarada Vasco no poleiro, o patrão disse-lhe que o melhor era ir para casa e gozar os 3.300$00 que lhe eram oferecidos pelo governo.
Assim fez, mas não arrumou as ferramentas do seu ofício. Até depois dos 80 anos dava prazer vê-lo pegar num machado e rachar um camião de lenha em meia-dúzia de horas. Eu que andava pelos 50 e ocupava o cargo de director numa empresa multinacional, olhava para ele com inveja.
Pouco depois começou a faltar-lhe a vista e as forças e teve que dar a mão à palmatória. Sentava-se pelos cantos, de manhã à noite, e entretinha-se a falar com quem por ele passava, na maioria pessoas da sua faixa etária. Não gostava da vida que tinha nem do futuro que antevia e sempre que nos sentávamos um pouco a falar das vicissitudes da vida, lá vinha ele com a tal afirmação, «ser velho é uma foda!».
Sofreu um AVC um pouco antes dos 90 e morreu um ano depois. Nunca me esqueci destas suas palavras e, conforme a minha idade vai avançando, mais compreendo o que ele queria dizer. Eu ainda não cheguei aos 70, o meu esqueleto está uma autêntica "nassa" e já só ando tocado a comprimidos. Um dia destes recebi um mail com a imagem que vos mostro abaixo e pareceu-me apropriado trazê-la aqui para ilustrar esta história da minha vida real.
As rodinhas que nos ajudam a movimentar durante
a nossa vida. Infelizmente eu estou quase à última!
a nossa vida. Infelizmente eu estou quase à última!
O que aconteceu com o teu pai. Também aconteceu comigo. tinha eu 6 anos de idade quando minha mãe morreu. Fui levado para casa dos meus tios. Contra a minha vontade.
ResponderEliminarNão frequentei a escola diurna.
Evito falar neste assunto, porque em mim ficou para sempre a revolta.
O teu falecido pai tinha razão, e sabia o que dizia.
Ser velho é uma foda e até isso se vai com a velhice.
Irei voltar aqui mais vezes. pensava que já não continhas este blog, em funcionamento.
Nâo só é roda da vida,como tambem o é lição da vida.
ResponderEliminarGostei muito da tua ideia em lançares para aqui uma coisa que a todos parece andar despersebida.
Com consideração
AMÉRICO
Fostes um felizardo, ter um Pai com noventa anos, mesmo com as mazelas próprias da idade não é para todos, o meu com 56 achou que estava cá a mais e atirou-se para dentro dum poço, em tinha quinze anos, e precisava dele cá para me ajudar a dar um rumo á vida, dois destinos diferentes.
ResponderEliminarUm abraço
Virgílio