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segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Frei Paiva Boléo. Outros combates!


O 2º tenente Paiva Boléo foi Imediato do 4º Destacamento em Angola (1963-65), e quando o Comandante Pascoal Rodrigues regressou a Lisboa, substituiu-o no Comando. Quer numa quer noutra das situações foi sempre igual a si próprio. Irrequieto no sentido de que nunca dava descanso ao pessoal. As operações pelo mato adentro, à procura do inimigo, eram uma constante. Muito capim se desembaraçou com os braços, se desbravou com o corpo e se pisou com os pés até se alcançar os objectivos assinalados nos mapas pelas coordenadas previamente traçadas. Geralmente, o inimigo já lá não morava; nunca morou ou já se tinha ido embora; ou as informações não eram fidedignas. Qualquer que tenham sido os motivos que nos levava por esse capim fora, e pelas picadas infindáveis, a verdade é que nós, no DFE4, nunca fomos atacados no Norte de Angola. Provavelmente porque não nos acomodávamos às situações ou porque assim aconteceu.



Do ponto de vista disciplinar, o pessoal mantinha o seu nível: cumpria todas as ordens que militar e hierarquicamente lhes eram exigidas e respeitavam o seu Imediato.
Também ele era disciplinado e uma pessoa correcta, como se costuma dizer, tinha bom íntimo. Acho até que o tenente Paiva Boléo era generoso.
Tinha lá as suas coisas…era um tanto picuinhas, miudinho… Aliás, o apelido de guerra de «O Gafanhoto», primeiro e de «Picadas» depois, é ou era um pouco reflexo da sua meneira de ser! Creio que não era só o Guilhermino que pertencia a FNAC – Frente dos Apanhados pelo Clima. Creio que todos nós contribuimos com uma quota. Assim já deve ficar mais bem composto e talvez o Frei Paiva Boléo não me mande penitenciar…
Depois do regresso de Angola, a maioria do pessoal só voltou a encontrar-se 40 anos depois: 5 de Março de 2005. Neste 1º Encontro foi prestada Cerimónia Religiosa pelo Frei Paiva Boléo, coadjuvado pelo Capelão Licínio do Corpo de Fuzileiros.
Foi uma cerimónia inédita em que não faltaram alguns instrumentos usados na guerra como a G-3 e a granada, expostas numa mesinha ao lado, para mostrar e explicar depois a alguns dos presentes. Assim, foi referido que A G-3 e a granada eram as nossas companheiras de guerra e a levávamos para todo o lado; até dormíamos com elas (só não se fazia amor…).
A este propósito, um filho do nosso camarada Fernando Bento de Sousa (16399, no blog 4DFE-fuzileiros descreve, de uma forma elucidativa, as impressões e a intervenção do frei Boléo:


Conheci esse homem, no dia em que acompanhei o "16399" a Vale de Zebro. À primeira vista mais um "Fuzo" com uma barriga e barba. Então foi-me apresentado como tendo sido o Imediato do DFE4, e agora era Sacerdote missionário na Bélgica. Pareceu-me de imediato que todos aqueles Ex. Fuzos o admiravam. Findas as Honras Militares, lá fomos nós para a Missa.Será que foi uma missa, ou um reviver do passado, de todos aqueles homens? Reviver, pois lá estavam a G-3, a "Amante" e a Granada.Nunca imaginaria, se visse aquele homem, aquele Sacerdote num qualquer altar, sem o conhecer, ver a sua destreza em lidar com a G-3. Quem diria que ele foi Oficial FZE!As histórias, por ele contadas comoveram a assistencia, pois lá encontravam-se as esposas destes homens.
Ouvir o Imediato, contar a visita do Alm. Américo Tomáz, e as medidas por ele tomadas, ao impedir que as nativas, não fossem saqueadas, para não colocar mais pólvora na fogueira....



Mas o que mais me impressionou, foi ele contar, que um Fuzo Negro, que estava destacado num posto avançado, no desespero da sua solidão, um dia deu um tiro em si próprio, na cara. Trazido no "Zebro" para Stº António do Zaire, o médico que o recebeu, não o queria tratar.Não me custou imaginar que aquele Oficial FZE, ao ver a situação de recusa por parte do médico, em tratar aquele Soldado, tenha puxado da Walter, e tenha dado a escolher ao médico, entre tratar o paciente, ou levar um tiro na cabeça. Acredito que ele o tivesse feito.
Frei Paiva Boléo, penso que seja um grande HOMEM.
Gostei de o conhecer!
Nós que estávamos ali não éramos a brigada do reumático, nem temos nada a ver com isso, muito embora já se tenha algum reumático…


Em nome do pai…
A nossa presença ali na missa - lembrou Frei Paiva Boléo - era em nome de alguém, da família ou até de um País... No nosso caso era em nome do pai (…do filho e do espírito santo. Ámen)
Era a primeira vez, desde há quarenta, que estava agora aqui connosco a celebrar a eucaristia. Agora noutras circunstâncias!
Hoje com outras armas e outros combates. Seguidamente, revela-nos uma inconfidência de há vários anos. Por que razão tinha ido para Padre! - Porque passara centenas de horas nos postos do Zaire e Cabinda a observar que a maioria de nós jovens, sendo crentes tinha uma ideia tão triste de Deus; tão pouco crente.Que era mais própria de ateus do que de cristãos. Também, quando andou a percorrer o País foi essa a ideia com que ficou dos crentes.


Independentemente das razões - por opção e ou vocação - essa foi a sua vontade livre e consciente. Não tenho porém dúvidas que o então 2º tenente Paiva Boléo (à data com vinte e quatro anos) se quisesse continuar a actividade militar, faria uma carreira brilhante na Marinha e nos Fuzileiros.


Santo António do Zaire, aguardar chegada do Presidente da da República,
Alm. Américo Thomaz, Outubro de 1963.












Para mim, foi mais uma referência humana que guardo com estima.
Um grande abraço para si,
Frei Boléo.

1 comentário:

  1. Combateu de armas em terra
    O 2º Tenente Paiva Boleo
    Seu destino é outra guerra
    Cujo comandante está no Céu

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