nma-16429.blogspot.pt é o meu novo blog. Seleccionem o link correspondente na coluna da direita e visitem-me!

segunda-feira, 4 de julho de 2011

O Salto do Vicente Galinhas!

O Vicente Galinhas é mais conhecido que a fome. Nos fuzileiros e meios que frequentam não há quem não o conheça. Mas nem todos conhecem a sua história. Não sabem, por exemplo, que ele é filho da minha escola (a de Março de 62), mas que não pôde jurar bandeira comigo por ter partido um braço numa queda na pista de obstáculos. Isso fez com que ele tivesse que juntar-se aos filhos da escola de Setembro do mesmo ano, o que lhe atrasou seis meses a sua vida na Marinha.
No passado sábado, enquanto decorria o almoço na Escola de Fuzileiros que foi servido exactamente no local onde funcionava a «Pista de Obstáculos Nº 1», ou seja, ao lado e por trás do Ginásio onde o Professor Ferraz nos obrigava a esmurrar "o focinho" uns aos outros, dei com os olhos na rede de cabos de sisal que servia para fazermos o «Salto à Tarzan» e veio-me esta recordação.
Eu cheguei à Escola de Fuzileiros numa sexta-feira era já noite escura. O jantar tinha-nos sido servido no velho Corpo de Marinheiros, ao cair do dia, e só depois disso e com muitas calmas nos fizeram ir buscar os nossos pertences e embarcar num camião com capota de lona e nos despacharam para Vale de Zebro. Recordo-me que ouvia esse nome e soava-me a qualquer coisa estranha que me fazia lembrar a Segunda Guerra Mundial e os campos de concentração nazis. Ninguém sabia o que era ou onde ficava Vale de Zebro e viajávamos naquele camião como porcos para o matadouro, quero dizer, sem fazermos a mínima ideia de qual seria o nosso destino.
Mas voltemos à história do Galinhas que é disso que se trata. No sábado de manhã acordámos todos lampeiros e após o almoço, sem nada especial em que nos ocuparmos, fomos reconhecer o terreno. Alguns dos grumetes chegados nos dias anteriores e que já conheciam os cantos à casa, serviam-nos de cicerones. Um deles e o mais afoito era o Vicente Galinhas. Em três tempos estávamos debaixo da rede do Tarzan com ele a exemplificar como se executava aquele acrobático e arriscado salto. Como não podia deixar de ser, eu fui um dos primeiros a imitá-lo e seguido de outros lá subimos ao pinheiro e fizemos o nosso baptismo de fuzileiros. Poucos dias depois, na repetição da mesma acrobacia o Galinhas caiu da rede, partiu um braço e foi separado do nosso grupo para ir curar a mazela.
Neste último sábado da minha vida, quase 50 anos depois, vi-me debaixo da mesma rede, mas já sem genica para subir ao pinheiro e atirar-me em voo para aquela rede que lá continua ainda como se estivesse à minha espera. Foi pena o Galinhas não ter aparecido lá também para tirarmos uma fotografia juntos e agora publicá-la aqui para a posteridade. Mas fica a história e as fotos que, mesmo sem protagonistas, servem para mostrar a quem não voltou àquele local, como está o campo de treinos daquele tempo e que todos recordamos com saudade. Se não por outras razões, pela mocidade que nos fazia donos do mundo!











Nas últimas duas imagens vê-se o cabo da «Descida da Morte», visto de baixo para cima, uma vez que já não há genica para ir lá acima bater a chapa, de cima para baixo. Agora só com a Escada Magirus dos Bombeiros do Barreiro!

6 comentários:

  1. "Se não por outras razões, pela mocidade que nos fazia donos do mundo!"... Nada mais verdade Tintinaine!... Excelente texto/excelente fotos e só tenho pena de não poder igualmente reviver nesse dia UMA MOCIDADE QUE TAMBÉM ME FEZ DONO DO MUNDO!... Um abraço e obrigado.
    Valdemar Alves

    ResponderEliminar
  2. Lá para Vale de Zebro,
    Ex- marinheiros em festa
    Ao almoço ensopado de borrego
    Acompanhado com vinho na caneca.

    O "Tintinaine", esteve lá,
    Com velhos camaradas se encontrou
    Mais um encontro passado já está
    Com todos eles velhos tempos recordou!...

    Para todos muitas felicidades
    e que por muitas mais vezes se possam encontrar.
    Eduardo.

    ResponderEliminar
  3. Belas fotos, da minha 2ªescola!
    Obrigado "Tintinaine" pelo teu excelente e sempre empenhado interesse em nos fazer recordar aqueles belos tempos em que tudo era nosso, logo que me seja possível irei apreciar aquele monumento que nos representa!
    O Vicente Galinhas, esteve na 8 connosco, mas eu desconhecia a sua história!
    Viva a Escola de Fuzileiros, que continue a formar HOMENS para a vida!

    ResponderEliminar
  4. Ao ver as excelentes fotos aqui publicadas, também me forçou a recordar a minha chegada `a Escola de Fuzileiros no dia 20 de Março de 1962. Desconhecia por completo a existência daquele local. Apesar de me parecer algo diferente, o que não é de admirar, reconheci perfeitamente os locais que focaste para que a nossa memória não se apague.
    O meu obrigado e aquele abraço.

    ResponderEliminar
  5. Excelente o trabalho que aqui nos mostras, só foi mau para as tuas «cruzes» espero que já estejas recuperado.
    Então o repasto foi na rua? estava convencido que seria no antigo refeitório pois a estrutura continua lá, e assim as recordações seriam mais intensas, mas á sombra também não estaria mau porque o dia não esteve muito quente.
    De todos os obstáculos parece-me que o que metia mais medo á Rapaziada era o túnel, a descida da morte e mesmo a pista de lodo não eram tão complicados, muito embora a do lodo fisicamente fosse a mais exigente, um gajo escorregava e batia com os costados cá em baixo, não era de brincar, mas o túnel era o pavor de não se encontrar a saída.
    Uma braço
    Virgílio

    ResponderEliminar
  6. Não foi aqui lembrado por ninguém, mas o que mais me assustava nos Fuzileiros era: O salto desconhecido, e a descida na serra da Arrábida por cabo até ao mar, a 1ªvez que fiz o salto desconhecido, a minha cervical aguentou com o peso do corpo e só recuperei a consciência já na enfermaria, não me esqueci porque ainda hoje sofro com as consequências.

    ResponderEliminar