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sexta-feira, 13 de março de 2009

O 25!

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Serra da Abogalheira, nos arredores de Amarante. Dia de inverno, depois de uma noite com queda de neve. Um técnico de comunicações da EDP que se prepara para subir a serra e reparar uma avaria num repetidor de sinal rádio, existente no Parque Eólico que fica lá no alto. No sopé da serra um reformado tentando gozar um tímido raio de sol que espreita por entre as nuvens e matando o tempo que tem de sobra. Com receio de ficar encalacrado e só, no meio da neve, o técnico da EDP pergunta ao reformado se não gostaria de o acompanhar até lá acima. Que sim, respondeu ele e, entrando no carro, fizeram-se ao caminho. E encetaram o seguinte diálogo:
- Então, já está reformado?
- Eu já. E como descobriu isso?
- Porque estava lá em baixo, sem fazer nada, a gozar o solinho...
- É verdade. Acho que já trabalhei o suficiente na vida.
- Agora vive das recordações, não é?
- Claro, e tenho algumas boas.
- Por exemplo?
- O meu tempo de tropa, que fiz na Marinha de Guerra.
- E por onde andou nesses tempos da Marinha?
- Estive em Moçambique numa Companhia de Fuzileiros.
- Eu também tenho um irmão que era fuzileiro e que também esteve em Moçambique.
- E como se chama esse seu irmão?
- Carlos.
- Na minha Companhia também havia um Carlos que era de Vila do Conde e tinha uma mota.
- O meu irmão também tinha uma mota. Será que se trata da mesma pessoa?
- Porquê? Você também é de Vila do Conde?
- Sou.
- Então pode ser. Em que Companhia esteve o seu irmão?
- Isso não sei, mas quando chegarmos lá acima já lhe telefono e pergunto isso tudo.
- Ok.
Chegados ao topo da montanha, depois de percorrer o estreito caminho sem problemas, foi dada a necessária atenção ao equipamento de rádio que era, afinal, o motivo daquela deslocação. Depois, uma ligação telefónica para minha casa e o diálogo continuou, agora entre o meu irmão e eu.
- Bom dia!
- Bom dia!
- Sabes onde estou?
- Não faço ideia.
- No alto da Abogalheira. E sabes quem está comigo?
- Não faço a mais pequena ideia.
- Um fuzileiro que esteve em comissão em Moçambique.
- Ai sim? E quem é ele?
- Espera aí que vou passar-lhe o telefone e vocês já falam.
E depois de um pequeno intervalo para possibilitar a troca de posições no apertado espaço do posto de rádio que eu, por acaso, também já visitei por várias vezes, ouvi a sua voz que perguntava:
- Está lá.
- Estou sim, quem fala?
- Daqui fala o Azevedo. Você era fuzileiro e esteve em Moçambique?
- Era. Estive.
- Em que Companhia?
- Primeiro na 2 e depois na 8.
- Eu também era da 8. Lembra-se de mim? Sou o 25!
Depois disto seguiu-se uma longa conversa como podem adivinhar. Falamos dos velhos tempos, dos camaradas que nunca mais vimos e dos encontros que nunca tivemos. Com eles (ou devo dizer connosco?) aconteceu o mesmo que connosco, na Companhia 2, ou seja, nunca ninguém tomou a iniciativa e o tempo passou-se sem se voltarem a encontrar. Talvez um dia destes os ajude a reencontrarem-se.
Á sua pergunta, se me lembrava dele, respondi-lhe que sim. E é verdade e guardo até uma fotografia onde ele aparece, como podem ver. É aquele que está sentado, de boné na cabeça, fitando a câmara.

1 comentário:

  1. Digam lá o que disserem mas este artigo está de rachar, ou não fosse o nosso homem da terra do seu conterrâneo Eça! O que escreveu o “Crime do Padre Amaro” - entre outros - e que teve por hábito a invenção de adjectivos lembram-se? Foi político em Leiria, cônsul em Paris e Havana. Voltando ao artigo, está excepcionalmente bem elaborado! Todavia há que ter em conta que o Queiroz jamais poderia fazer semelhante trabalho porque na altura dele, lá para os anos 1850 do século XIX não existiam os convenientes telemóveis.
    Isto é que é crónica descritiva dum senhor polivalente!

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