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quarta-feira, 7 de abril de 2010

Façanhas do Abecassis!


Por Artur/Leiria (15683)


Nota do Leiria:



Pelo que tenho lido nos artigos bastante elucidativos do tenente Tavares Costa, muito em especial em referência ao Tenente Abecassis, achei por bem reintroduzir este artigo que escrevi no blogue da companhia, sobre o Tenente Abecassis. Penso que parte do que escrevi tem bastante credibilidade, e mais ainda, porque quando de visita ao João Camarada o ano passado em Vila Real de Santo António, foi ele a confirmar que tudo foi verdade, e que ele próprio foi falar com dono da piroga, para a alugar para o regresso do inditoso oficial. O sargento do pelotão, que me parece ter sido o Peniche/Veloso, saberá talvez mais a pormenor do desfecho do acontecido. Logo ao chegarmos à capitania, foi-nos informado que este tinha partido de imediato para LM e logo de seguida para Lisboa por intermédio talvez do Comandante Zilhão
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Certamente que muitos de vós se lembram do tenente Abecassis na CFN2! Ao apresentar este senhor quero lembrar que era alto e de estatura magra, bastante culto, talvez descendente de família abastada, criado, penso, com esmero de mãe, conhecido por nós como - menino da mamã - em contrapartida, nós, moços da rua, mais vividos, mais aptos para o que desse e viesse! Pois nada de agressivo se notava neste homem! Aí se via que não era, segundo o que vem a suceder-lhe mais tarde, homem nascido para ser fuzileiro, assim como muitos outros que foram chamados mas não escolhidos!
Lógico que a Escola Naval foi preferencial para cumprimento do seu serviço militar. Lógico também que, o atamancaram à pressa como oficial, para de imediato o ingressarem numa companhia de fuzileiros! Para mal dos nossos pecados, aposto que sabeis qual foi!
 Para vos dar uma ideia introdutória do carácter do referenciado, certo dia o Senhor, que era o encarregado da escrituração aquando da construção da capitania de Metangula, que lembro ser homem dos cinquenta anos ou perto, usando farda um tanto ou quanto diferente da nossa, (talvez, funcionário agregado ao quadro das capitanias) dizendo, sem esconder frustração que, o nosso homem, ao tentar colocar umas cortinas na janela da casa de banho, na casa que lhe tinha sido atribuída e à sua esposa para viverem durante a estadia lá: - “o sarapantas pôs as patorras no tampo da sanita e partiu aquela porra toda!”
Jeito, era coisa que o nosso tenente era alheio! O que infelizmente é coisa que não se vendia nem vende nas farmácias!
Mas vamos lá ao bojo da história; um dia brincando ainda aos soldados, porque a paz ainda lá morava, um pelotão incluindo a minha secção, que era composta de matulões, fomos num reconhecimento como treino a pé. Calor de rachar, os cantis dos camaradas foram despejados num ápice, excepto o do Leiria que estava sempre cheio de nada, porque tinha ido morar para outra freguesia!
Caminhamos umas boas horas para o lado do Cobué, descansando de vez enquanto, um pouco aqui e além, por uns minutos. A sede nessa altura era de matar, com a agravante de se poder ver o rico Niassa à distância.
Perguntamos a um pretinho que ia passando, se estava longe tal terra que se via no mapa, respondendo este num português trapalhão: “ fica mesmo ali patrão”. Qual patrão qual carapuça, aquele “ali” para ele, era o Algarve para o “Tintinaine” foi caminhar à procura do “ali” que nunca foi visto nem achado!
Lá bem para o meio da tarde chegamos a uma aldeia de palhotas, o nosso comandante mais morto do que vivo, com os pés todos esfolados que, nem em pessoas nas suas caminhadas de dias a Fátima se via tal coisa!
Manda chamar o chefe da povoação, este ao apresentar-se diz-lhe que, segundo certos artigos, ou não sei quê das nossas leis, que ele lá esclareceu a detalhe, o que pobre do preto pouco percebeu, tínhamos o direito de ser alimentados pelos povos indígenas em operações militares, por isso que fosse buscar algo para se comer.
Só depois de muito conversar, lá convenceu o velho a ir buscar leite porque comida nem para eles chegava! Passado uma hora ou mais, trouxe este, uma caneca com leite que não me lembro se alguém bebeu.
Por fim, quando chegou a hora de continuar o comandante estava exausto ao ponto de o não poder fazer! Chama o preto outra vez e pergunta-lhe se alguém tinha lá um barco que ele pudesse usar para regressar à capitania.


Como era uma aldeia piscatória, conseguiu-se uma piroga e um preto pescador para o levar de regresso! Lembro-me de ver o nosso tenente pela última vez, caminhando a coxear atrás do preto a caminho da piroga, pesarosamente dando mil e uma desculpas ao sargento e a todos nós por ter que actuar daquela maneira…O sargento (Peniche penso), passou a comandante interino, até ao nosso regresso a Metangula.
Logo ao chegarmos, e, ao inquirirmos sobre o exausto tenente, já ele tinha sido escorraçado de malas aviadas, em viagem tipo salto de canguru, para Lisboa via Lourenço Marques pelo comandante Zilhão! Como o Zilhão, que nem fuzileiro era, teve poder para isso, não sei!?
Mais tarde, perto do meu salto para a vida civil, alguém dissera que, para o nosso herói da história o que lhe aconteceu foi melhor do que a taluda na lotaria. Foi reintegrado na Escola Naval por pouco tempo, ficando assim, livre para seguir a carreira tão desejada de sua mamã. Talvez advocacia, olhando que, até das leis do ultramar ele era conhecedor (…) ou pareceu-nos!

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