Respondendo a uma solicitação do filho da escola Virgílio Miranda, homem interessado nestas lides da marinharia, e também para dar o meu singelo contributo para espalhar a História da nossa Marinha pelo infinito Mundo Cibernético, vou deixar-vos aqui algumas fotos e outros dados relacionados com a Sagres, Navio Escola de Marinharia.
Lançada ao mar em 1896 na Alemanha, no porto de Bremerhaven, com o nome de Rickmer Rickmers, foi apreendida pelos ingleses no mar dos Açores, durante a I Guerra Mundial, e passou a chamar-se Flores tendo sido usada como navio de transporte ao serviço da marinha mercante de Sua Majestade. Possivelmente fruto de alguma negociata com os nossos eternos aliados ingleses, em 1924 passou a integrar a Marinha de Guerra Portuguesa transformando-se no segundo Navio Escola da nossa história, a Sagres II.
Escrevi segundo e é verdade, pois entre 1884 e 1898 tinha já existido o primeiro Navio Escola Sagres, ancorado na foz do Rio Douro. Este tinha sido construído em Inglaterra e usado como navio mercante até 1884, data em que foi modificado para servir de navio escola.
Não tendo encontrado quaisquer dados sobre o assunto, admito que não houve navio escola a funcionar durante os últimos 12 anos de Monarquia (mais que provável barafunda política e falta de dinheiro) nem nos primeiros 14 da Nova República instaurada em 1910 (com a concomitante barafunda política e falta de dinheiro publicamente reconhecidas, tal como acontece, de novo, nos nossos dias).
A Sagres II (permitam-me chamá-la assim para evitar mal entendidos) manteve-se ao serviço da Armada Portuguesa até 1961, altura em que chegou do Brasil a sua substituta que lhe roubou o nome. Foi então rebaptizada com o nome de Santo André e manteve-se na Doca da Marinha, no Alfeite até ser entregue aos alemães que a levaram para Hamburgo, a reconstruíram e transformaram em Navio Museu, devolvendo-lhe o nome original de «Rickmer Rickmers».
Também construída na Alemanha, foi lançada ao mar em 30 de Outubro de 1937 uma barca a que foi dado o nome de Albert Leo Schlageter e posta ao serviço da «Kriegsmarine» que é como quem diz, a Marinha de Guerra do III Reich.
Com o fim da II Guerra Mundial os americanos confiscaram-na como presa de guerra. Estariam no seu direito, presumo eu. Três anos depois, em 1948, pelo preço simbólico de 5.000 dólares venderam-na ao Brasil, negócio que pretenderia de certa forma indemnizar a Marinha Brasileira pelos danos causados à sua frota pela acção dos submarinos durante o período de guerra.
Em 1961 chegou a Portugal e à Doca do Alfeite com o nome de Guanabara. Segundo ouvi dizer na altura, quando participei na limpeza e adaptação à sua futura utilização como Navio Escola, ela tinha sido oferecida pelo governo brasileiro à Marinha Portuguesa, mas não tenho qualquer prova que o confirme. Depois de pronta passou a ostentar o nome de «Navio Escola Sagres» e para o que interessa da história, passou a ser a Sagres III.
Esta bela fotografia, da mesma Sagres III, foi tirada em Boston no início de uma regata (suponho que a de 2007) da mundialmente famosa prova «Tall Ships Race».
Muitíssimo bem explicado Carlos!
ResponderEliminarPara quem não sabia onde elas tinham sido construídas é informação de mais-valia!
Ao que parece os alemães são/eram barras na construção de “tall ships”! Não haja dúvida que a Net passa a ser imprescindível na pesquisa dos tempos de hoje, doutra forma ter-se-ia que calcorrear bibliotecas e desfolhar livros sem conta, para se adquirir a mais variada informação… Viva a Net e nós também.
Saúde a todos!
Amigo Carlos
ResponderEliminarCom os meus agradecimentos, pela informação prestada,que diria é mais uma aula de Marinharia,como a que recebiamos no saudoso Santo Andé,que como tantas outras coisas,se foi, quando poderia fazer por cá o que faz na Alemanha,mas enfim são os governantes que temos tido.
Resto de Festas Felizes
Um abraço Virgilio Miranda
A foto em Boston é de 2009,
ResponderEliminarUm Abraço