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domingo, 5 de junho de 2011

O meu primeiro emprego!

No dia 20 de Maio de 1968 fui a Alcântara entregar todos os meus pertences e assinar a rescisão do meu contrato com a Armada. Armada em parva, costumava eu dizer sempre que me vinha à ideia aquilo que me fizera passar nos últimos meses. Os quase 5 meses do ano de 1968 foram os piores que passei na Marinha. Com a alegria de regressar à cidade, depois de um ano inteirinho isolado no Niassa, e a perspectiva de um regresso muito em breve a Lisboa tudo parecia correr sobres esferas. Puro engano. Pouco tempo depois batia com os costados na prisão - por um crime que não cometi - e passei um resto de comissão miserável.
Regressado a Lisboa ainda durante o mês de Março vi satisfeito um dos sonhos que ainda não tinha tido direito a conhecer, ir de férias à "santa terrinha" e passar 30 dias sem andar a levar a mão à testa e bater a pala a todos os cretinos com quem me cruzava a toda a hora do dia.
Nos fins de Abril já estava de regresso à Escola de Fuzileiros. Distribuíram-me o lugar de Encarregado do Refeitório que nem tive tempo de aquecer, pois duas ou três semanas depois saiu à «Ordem do Dia» que a Marinha me considerava "Personna non grata" e friamente me indicava a porta de saída.
Vi-me e desejei-me para encontrar o meu primeiro emprego. Na verdade eu nunca aprendera a fazer nada e dizer que tinha passado os últimos 6 anos nos fuzileiros não me abria muitas portas. Mas com as recomendações de alguém que conhecia as pessoas da família que era dona da maior empresa industrial da Póvoa, lá me arranjaram um cantinho para ir aprender o que custa a vida quanto temos que nos esfarrapar para ganhar o sustento do dia-a-dia. No dia 1 de Outubro apresentei-me ao serviço, cheio de vontade de enfrentar, à fuzileiro, qualquer dificuldade com que me deparasse.
O trabalho que me destinaram era pouco menos que inexistente, passava os dias sem nada que fazer, a cabecear com sono e com a única preocupação de não ser apanhado pelo chefe a fazer algo que não devia. Comecei a acreditar que me tinham arranjado aquele emprego só para serem agradáveis com quem me recomendou e lá se foi a pouca motivação que até aí ainda me fazia saltar da cama todos os dias.
No dia 30 de Novembro abandonava a empresa, onde nada tinha aprendido também, e partia para a emigração. Mas não sem antes ter vivido ali uma experiência que hoje me veio à lembrança por estarmos em dia de eleições.
Estávamos em fins de Outubro de 1969, era sábado e eu esperava com alguma ansiedade que o relógio batesse as 11.00 horas e a buzina da fábrica nos avisasse que podíamos enfim partir para o curto fim de semana a que tínhamos direito. Faltavam alguns minutos e já eu tinha arrumado as minhas poucas ferramentas de trabalho quando vejo vir direito a mim um dos filhos do patrão, aquele que desempenhava o cargo de «Director Industrial».
- Então, amanhã vais cumprir o teu dever - disse ele espreitando-me por baixo do bigode?
- Claro - respondi-lhe sem dar muita confiança.
Uns dias antes tinha-lhe comunicado que queria um aumento de 100% ou teria que ir procurar outro emprego, pois ali não ganhava o suficiente para sustentar a mulher e filha.
- Tu é que sabes - tinha-me respondido ele.
Com o firme propósito de abandonar, em breve, a empresa não estava com muita pachorra para lhe dar graxa e a nossa conversa por ali se ficou. Mas, no dia seguinte de manhã, quando me aproximei da entrada principal da Câmara Municipal, onde se realizou o acto eleitoral que confirmava o Marcelo Caetano no lugar que até ali tinha sido ocupado pelo Salazar, dei de caras com ele, encostado ao umbral da porta, que me olhou fixo nos olhos e disse:
- Vê lá se não te enganas no sítio onde pões a cruzinha!

4 comentários:

  1. Só faltou dizer: Não te enganes senão vais para a rua,a minha saída da Marinha foi quase tirada a papel químico, depois de levar o chuto da Marinha, e como tinha o curso de soldador tirado no Vítor Ribeiro, na Pinheiro Chagas em Lourenço Marques, fui fazer exame a uma Empresa no Laranjeiro, pensando que estava preparado fiz logo asneira, mas como disse ao patrão que era recém casado, lá me arranjou trabalho a cortar alumínios para a construção civil, no fim do mês deu-me metade do vencimento que tinha contratado comigo como soldador, e foi a gota d´água para bater asas até França e em boa hora o fiz, peço desculpa este comentário é mais longo que o habitual, vejam onde metem a cruzinha!:))

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  2. Eh pá, vós só contais mágoas
    Virai o disco, por favor;
    Eu, naveguei noutras águas
    E quase saía doutor...
    A Armada deu-me muito
    Isso não posso negá-lo;
    Do que aprendi, tudo junto
    Passei de burro a cavalo...
    E, neste ousado momento
    Dizer que, se assim não fosse
    Acreditai que este jumento
    Era capaz de dar um coice
    Mas nunca tive argumento
    E assim a ideia, foi-se...
    Porém, digo mais uma verdade
    Conheci muitos amigos
    Que me deixaram saudade
    Livrei-me de castigos
    E, mantive a "castidade"
    Difícil naqueles trilhos
    Como todo o Escola sabe...

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  3. Lamento que tenhas sido castigado sem motivo, podias ter recorrido cá ao Rapaz que além dos motivos porque fui castigado ainda fiquei a dever alguns á Marinha tantos foram os «saltos» sem licença, que eu dispensava alguns e assim já tinham um motivo justo para te castigar, mas a vida tem destas coisas, muitas vezes paga o justo pelo pecador, se é que no teu caso ouve mesmo «pecador».
    Um abraço
    Virgílio

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  4. Conforme dizes, saíste a 20 de Abril de 68, dois dias depois, a 22, foi a minha vez de assentar praça e assim se foi dando continuidade.
    Um abraço, Godinho.

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