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sexta-feira, 5 de junho de 2009

Humor à Solta em Terras do Alentejo!



Artur/Leiria
Cronicando

Dois compadres amigos à conversa, como é uso e costume, para passarem o tempo nos anos de aposentação. Sentados num banco rústico, junto a uma estrada rural numa aldeia bem no coração do Alentejo, debaixo dum chapéu-de-chuva para se protegerem dos intensos raios solares destas terras bem quentes.

- Eh compadri Jacinto, está a vestir bem caramba, com um casaco desses de cabedal, as moças até vão ficar a pensar que a lotaria te bateu à porta e, olha que a cobiça, que é pecado, vai morando por aí compadri! Se assim for vão ser como moscas à tua volta; sabes porquê, não sabes?

- Qual lotaria qual carapuça Amândio, foi a minha Gisélia que foi ao Canadá visitar a filha e porque estas coisas são baratas lá para essas terras, lembrou-se de ma trazer, mas olha como está calor vou pô-la aqui sobre esta mesa, enquanto estamos na conversa.
- Fazes bem compadri, fazes bem e como o dia de hoje ainda é jovem, há muita laracha para se conversar!

- Já que estás a falar em larachas queres saber a melhor Amândio, o João Jaleca e a mulher, a Custódia, sabes que têm por hábito saírem pela janela logo pela manhã porque sabem que têm um dia de trabalho à porta?
- Não me digas? Essa não sabia eu! Mas olha, cá por esta banda não é de estranhar, bem se vê que eles não degeneram não; ou não fossem eles alentejanos de gema, o que não é de admirar.
- Mas ouve. Não é que há dias encheram-se de coragem e saíram porta fora, de sachola às costas, para irem cuidar duma horta que têm lá para o outeiro, como sabes fica lá no alto, no outro lado do lugar e, acontece que ao chegarem ao cimo ouvem uma voz a gritar “acudam-me, acudam-me, ajudem-me” e não é que largam as sacholas e começam a andar ladeira a baixo e para não caírem, tiveram mesmo que correr, vê lá tu, terem que correr, imagina, foi coisa rara como santo que caiu do altar, ao chegarem lá em baixo estava o tio Joaquim Alarcão o velhote estatelado no chão e ao sol de barriga para o ar, perguntaram-lhe sobre o que se passava e se havia alguma novidade, o velhote respondeu que não e que o pusessem à sombra! Já viste os azares que tiveram em terem saído pela porta em vez da janela!
- Foi só trabalho compadri Jacinto, mas olha que dizem que o trabalho dá saúde, e eles aqui trabalharam duro, mas nessa não vou eu, não! É bem melhor estar aqui à conversa, do que passar por essas, não achas compadri?

- Olha, olha, se o trabalho desse saúde não havia doentes no hospital compadri! Isso é que era bom. E os médicos tinham que ser todos advogados – mal por mal era melhor roubar do que matar! Olha, quando a gente faz uma operação dão-nos um papel para assinar. Sabes porquê compadri?
- Não faço a mais pequena ideia, mas olha que não deve ser coisa boa não, ou será?
- Claro que não Amândio é que se eles nos matarem na operação, aquilo é uma carta, e a gente sem sabermos, a autorizar o seu perdão no caso de nos virem a matar! Já vês que assim podem matar quando quiserem! Ao menos a PIDE não nos matava e o calabouço era bem melhor, não achas? Mas agora já se pode falar nestas coisas à vontade, graças ao “bochechas”, que é filho dum padre, e quando foi Primeiro-ministro e Presidente da Republica e não sei que mais… que ajudou a PIDE a levar uma volta, graças a Deus e a ele!
- Mas Já agora Amândio, voltando ao João Jaleca, queres ouvir outra? Sabes que ele guarda porcos na quinta do Ataíde, quem me contou esta, foi o Zacarias que às vezes o vai ajudar, então como é hábito sobe-se à azinheira, sabe Deus como, apanha-se e atira-se a bolota aos porcos e eles vão comendo, fazem isso alternadamente entre eles. Às páginas tantas apareceu um escorreito rapaz trotando num cavalo, que parou ao pé deles e perguntou o que estavam a fazer. O Jaleca perguntou se ele não via que estavam a dar de comer aos porcos. Ao que o rapaz respondeu que, com o trabalho todo de terem que subir há árvore, se não seria melhor arranjarem um pau para varejar a bolota e porcos comiam. O Jaleca voltou-se para o Zacarias e sai-se: “Compadri, este parece engenhêro!”

- Compadri penso que o seu casaquinho de cabedal já vai longe! Mas olhe que o não vi partir.
- Então porquê compadri Amândio? Que se passa?
- É que já o não consigo ver!?
Lá ficou o jacinto consternado por causa do casaco e a história que teria que arranjar para se desculpar com Gisélia, sua mulher. Mas lá por causa disso a conversa não esmoreceu, com gente desta tempera o ânimo não desvanece, nunca!

- Vamos lá à rotina das historietas, Amândio. Sabes por que é que os do norte dizem que nós, os alentejanos, temos o hábito de plantar canteiros de alhos junto à estrada?
- Não faço a mais pequena ideia compadri alentejano.
- Os nabos dizem que é por causa de nós pensarmos que os alhos fazem bem à circulação! Mas não se apercebem que nós não compramos carros porque o dinheiro é preciso para criar a mixórdia dos melões, que eles nos vão comprando e quando voltam para reclamar, já estamos nós a ajudar a circulação noutro lugar! Bem feito, que é para aprenderem. Assim não há congestionamento na venda dos melões! Nem circulação!

- Compadri Jacinto estás a ver que eu estou a ver?
- Se me disseres o que é, logo eu te digo.
- Então não estás a ver uma nota de 50 euros do lado de lá da estrada?
- Estou.
- Então não achas ser melhor ires apanhá-la, já que fui eu que a vi primeiro?
- Não vale a pena compadri, de manhã ao ouvir o rádio disseram que o vento ia mudar e logo que ele sopre a nota para este lado, o compadri apanha, por isso vale a paciência e a gente espera…
É assim mesmo compadris, porquê correr se a vida se esvai num abrir e fechar de olhos, por isso à que estimá-la… muito devagar... devagarinho... (!?)

2 comentários:

  1. Tanto trabalhinho e ninguém passa por aqui, nem sequer um compadri!
    Parece memo que se trabalha para o boneco ou será para inglês ver?

    Lá por isso saúde boa aos escolas...
    E, a todos os heróis portugueses,
    Já que muito se corre atrás das bolas;
    Mas com algum sucesso, só às vezes!

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