O Ramiro era quem nos tosquiava quando era preciso. Nas horas vagas tocava acordeão. A música estava-lhe no sangue, pelo que parece. Tanto assim que hoje tem um filho que ganha a vida fazendo o mesmo que ele, naquela altura, fazia por desporto.
Por causa do convívio que andei a organizar, falei várias vezes com ele, ao telefone, mas muito sinceramente não me lembrava da cara dele. Era como se estivesse a falar para um desconhecido. Numa foto que o Páscoa fez o favor de me mandar, encontrei a cara dele e, então, fez-se luz no meu cérebro. E veio-me à ideia aquilo que ele me disse na primeira conversa que tivemos sobre o nosso amigo comum, o Paulino de Bragança.
Nos últimos anos da sua vida, o Zé Paulino morou no Feijó (o Ramiro mora no Vale Figueira) e dava-se muito bem com ele. Quando se encontravam, costumava dizer-lhe que eu, qualquer dia, apareceria por lá para lhes fazer uma visita. O Paulino morreu no ano passado, sem que eu alguma vez o tivesse visitado, pois nem tão pouco conhecia o seu endereço. Em setembro de 2007 estive na Quinta da Atalaia (para satisfazer a munha curiosidade quanto à festa dos "comunas") e bem tentei encontrá-lo. Tinham-me dado o seu número de telemóvel e liguei-lhe vezes sem conta, mas sem resultado. No dia seguinte, quando já eu viajava para o Porto, pela A1 acima, ligou-me ele (deve ter visto tantas chamadas não atendidas no seu telemóvel que quis saber de quem se tratava), mas era tarde de mais.
Nessa altura já ele estava muito doente e isso notava-se-lhe na voz. Combinamos encontrar-nos no Porto, quando ele viesse à consulta no IPO, mas também dessa vez o encontro falhou. Só voltei a vê-lo no seu leito de morte, altura em que já nem me reconheceu. Coisas da vida!
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